quarta-feira, 16 de junho de 2010

Half-minute horrors.

"A mão direita não sabe o que a esquerda esta fazendo" é uma frase que se refere aos momentos em que as pessoas deveriam saber, mas não sabem, alguma coisa que está acontecendo muito perto delas. Por exemplo, você deveria saber sobre o homem que te vigia enquanto você dorme. 
Ele é um homem quieto,e você não sabe nada sobre ele. 
Você não sabe como ele fica em sua casa, ou como ele encontra o caminho para a sala onde você dorme. Você não sabe como ele pode olhar para você por tanto tempo sem piscar, e não sabe como ele consegue ter ido embora de manhã, sem deixar vestígios, e não sabe onde ele comprou a faca, muito afiada, curvada como a lua crescente, que ele segura na mão esquerda, as vezes só a milímetros de seus olhos, que estão fechados e sonhando. 
Há, naturalmente, coisas que ele não sabe sobre você, tampouco. Ele não sabe o que você está sonhando, mas pode ser que ele não se importe. Suas roupas estão amarrotadas e tem rasgos estranhos aqui e ali. 
Uma das mangas do casaco é mais longa que a outra, e isso pode ser para cobrir a mão direita. A manga é longa o suficiente para que, se você acordar e vê-lo, o que você nunca fará, não possa ver que a mão direita é estranha e torta. Levaria um tempo, na escuridão da sala, para perceber que estão faltando três dedos. 
Ele vem todas as noites. 
Sua mão direita não sabe o que a esquerda está fazendo.

Iria passar.


Inconscientemente parecia querer buscar em autores, filmes e músicas, algum tipo de consolo. Como se alguém precisasse chegar bem perto do sofá, onde estava, colocar uma das mãos em seu ombro e dizer que aquilo era normal. Que acontecia também com outras pessoas. E que iria passar.






Ainda pior.


Ainda pior que a convicção do do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase.É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. Mas de nada adianta cercar um coração vazio ou economizar uma alma.
Amely: 14 anos de desastres. Gosta de ler, viciada em séries, joga xadrez, damas e video games. Ouve rock, vê filmes e passa a maior parte do tempo ociosa. Cética, impulsiva, inconstante. Não costuma esperar muito de ninguem. Sincera ao ponto de ser desagradável.