domingo, 4 de setembro de 2011

Le vent nous portera.


Você começa a se lembrar do sorriso e dos olhos mesclados em alguma tonalidade entre o azul e o verde. Você se lembra da voz e daquele sotaque francês engraçado arranhando o inglês enquanto ele tentava explicar algum ditado famoso que você nunca tinha ouvido falar. Você se lembra das piadas que não faziam sentido e das longas caminhadas em meio ao vento. Lembra de como o tempo escapava entre seus dedos, por mais que você quisesse manter aquele momento para sempre. Você se lembra de como era adorável se sentir tão ingenua, tão protegida e -tão tão- livre. Nada mais importava. Ninguém, em lugar algum do mundo importava, só aquele momento, encapsulado cuidadosamente na memória.
E é como se, depois de tudo -tudo o quê?- você ainda fosse embora assim que o sol nascesse. Porque você foi. Seu ônibus partiu sem nenhuma cerimônia, e não houve cena romântica -como bem sabia- de um ultimo "Love you despite the distance" que contivesse meu ânimo, ou qualquer cliché barato que me fizesse sentir melhor. Você foi embora, pra onde quer que te levassem. 
Não cairam lágrimas, embora o peito tenha doído. E dói até hoje. 
Tudo bem, sejamos justos, eu também parti. Parti não, voltei. E é isso que não engulo. Esse foi o momento em que percebi que preferia estar em qualquer outro lugar, menos aqui. London, Paris. Uma passada em Dubai, alguns dias em Berlin... Até Zurich, pra completar o abecedário. A mala ainda está aberta. Existem fotos polaroid coladas na parede da sala mostrando sorrisos amarelos meio desfocados como plano de fundo. E a noite eu ainda te espero, mesmo sabendo que não virá, e mesmo sabendo que vai doer mais uma vez, só porque não consigo. Não consigo deixar passar, esquecer, ou pelo menos tirar da minha mente por alguns segundos. Eu virei saudade. Meu fim, triste e seco é perceber, só agora, no que me transformei: um punhado de nostalgia. 
Não é como se fosse sua culpa. Talvez seja minha, talvez da vida, ou do tempo. Ou mais provavelmente, culpa de ninguém, pois não há culpa em tais coisas. 
Sem me estender demais -pois o assunto vira faca que não corta, e tamanha repetição me desgasta-, só queria te dizer, por fim, que me faz falta. Me faz muita falta aquele sorriso despreocupado que eu conheci por algumas noites. 
E aqui, a verdade -como costuma ser- é simples e fatal:  pessoas certas acontecem. Distâncias erradas entre elas também.
Porque, apesar de tudo, você sempre vai ser o meu francês. O meu Pierre.