terça-feira, 1 de março de 2011

Quero domingos de manhã. Quero cama desarrumada, lençol, café e travesseiro. Quero seu beijo.

Chegue bem perto de mim. Me olhe, me toque, me diga qualquer coisa. Ou não diga nada, mas chegue mais perto.Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada. Daqui há pouco você vai crescer e achar tudo isso ridículo. Antes que tudo se perca, enquanto ainda posso dizer sim, por favor,
chegue mais perto.

As vezes as pessoas te escrevem coisas bonitas. Só as vezes.

 "Eu tenho uma amiga que me é muito cara. O seu nome é francês e ela diz, de forma sarcástica, que seu humor é britânico, mas presumo que esteja brincando comigo. Todos sabemos que os britânicos têm de tudo, menos humor. Não me recordo o tempo que a conheço, mas não é muito. Em verdade, ela é uma daquelas amizades que hoje em dia se proliferam no mundo virtual, mas é diferente do comum, é mais profunda e sincera do que habitualmente somos, mesmo pessoalmente, uns com os outros.
Confesso que não a conheço pessoalmente. Descrevê-la caminhando com passos gráceis, falar-lhes sobre a voz levemente doce e infanta que certamente possui, acrescentar linhas de adjetivos sobre sua beleza suave ou descrever seu risinho de menina eu não posso fazer. Isso seria desonesto de minha parte para com o leitor, pois não a conheço pessoalmente como já disse. É tentador falar sobre esses aspectos, mas seria apenas poético e nada verdadeiro.
Meus amigos às vezes me perguntam como posso conhecer e me envolver com pessoas pela internet em tantos níveis diferentes. Falam isso, pois sabem que tenho muitos conhecidos espalhados até mesmo em outros países e que me são de importância até maior – se é que isso existe -, das que lido em meu dia-a-dia. Digo-lhes, contudo, que apesar de aparentemente ser diferente conhecer e falar com alguém pela internet, não há essa discrepância toda. Posso pôr a prova o que digo puxando uma lista bem longa com nomes de pessoas que conheci desta forma e que hoje, após encontrá-los pessoalmente, são grandes amigos ou amigas ou até mesmo ex-namoradas de longa data. Há de tudo. Confesso, contudo, que assim como no mundo “real”, nesse mundo virtual me dou melhor com as mulheres. Prefiro a alma feminina, ela me apetece mais. A suavidade da mulher, mesmo que em virtualidade, permanece assim como a aspereza do homem. Mas não estou aqui para filosofar, então tratemos de voltar ao assunto.
Falava dessa minha amiga que, das muitas que possuo, é uma das que mais prezo. Não há um motivo claro para isso, existe apenas uma estima pura e impessoal, ao menos de minha parte. Isso é bom, pois quando algo torna-se pessoal tende a apodrecer se não for bem cuidado. Em nosso caso, não precisamos cuidar de nada, apenas somos o que somos um com um outro e que o resto se dane. Nós conversamos sempre que podemos, mas esses encontros são casuais. Não marcamos nada com nada, e jamais chamamos um ao outro para conversar. Apenas acontece, como se nos encontrássemos por acaso na rua e sentássemos num banco qualquer a tagarelar futilidades de todos os tons. Há dias que sequer nos despedimos. Não temos destes dedos um com o  outro, e deixamos isso para as pessoas mais polidas. Geralmente falamos por horas. Nossos assuntos vão desde discussões cultas sobre arte antiga e filosofia, passando por literatura, música e línguas até chegar em coisas mais baixas tal qual estudos, política e religião. Apesar de sua idade não ser relevante, seu pensamento alcança o meu com largas asas, e podemos quase sempre dizer disparates que poucos entenderiam ou dariam atenção. Noutro dia estávamos travando conhecimento sobre gírias e depois de algumas horas rindo daquele assunto fútil, mudamos drasticamente para uma discussão absurda onde ela rosnava afirmando que Pink é rosa em qualquer lugar do mundo. Não me perguntem como chegamos neste assunto, mas após dado ponto firmamos o consenso de que Pink é rosa em francês. O erro é evidente, mas que importa? Se falássemos que Pink é Pink qual seria a graça? O que interessa é que fazemos o que queremos com nosso Pink, e para nós ele é francês.
Há graça nela e muitas vezes prefiro apenas que fiquemos conversando a sós do que com outras pessoas sérias e sem graça. Procuro contar-lhe piadas sem sal, ou fazer comentários sobre qualquer coisa que geralmente não comentamos ou mesmo trocar insultos mil de forma desordenada. Sim, nós nos insultamos com tanta veemência que rimos disso. Os leitores podem ficar chocados, mas somos tão bons nessa arte que não nos machucamos um ao outro. Os insultos são variados, as pilherias das mais estudadas formas, e no fim sempre rimos como duas crianças tolas que se apontam os defeitos. Eu a chamo de “menina boba”, ela me diz “escritor arrogante”. Talvez haja mais verdade da parte dela para comigo, pois de boba ela nada tem. Contudo, verdade seja dita, ocorre às vezes de conversarmos de forma compenetrada e nestas horas digo-lhe coisas de meu íntimo, as quais o vulgo nada sabe. Ela talvez não o saiba, mas nas tardes quentes de tédio lembro-me de sua risada psicodélica e assim sigo meu dia, lembrando dessa minha amiga de nome francês, humor britânico, dentes tortos e amarelos de tomar café, mas que muito me alegra a vida... Nada mais."