segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Histórias de amor duram apenas 90 minutos.

Eles se olhavam.Apenas sentindo o outro, preenchendo de algum modo o vazio que existia dentro deles.Podia não ser o jeito certo, mas funcionava por alguns instantes. Deixava quase suportável. Uma vontade, uma dor, que não podia mais ser contida. Um grito, uma angustia. 
Se mediam com os olhos,famigerados, como que procurando algo. Vestígio de algo que já não era. O relógio batia no mesmo pulsar de seus corações.
Quando saíssem daquele quarto escuro e mofado, não se veriam de novo. 
Haviam se cumprimentado com um adeus.

Alguém, ninguém, você.

Eu queria sair por aquela porta e conhecer alguém. Assim, sem precisar procurar no meio da multidão. Alguém que me levasse ao cinema e, depois de um filme sem graça, me roubasse gargalhadas. Alguém que segurasse minha mão e tocasse meu coração. Que não me prendesse, não me limitasse, não me mudasse. Alguém que me roubasse um beijo no meio de uma briga e me tirasse a razão sem que isso me ameaçasse. Que me dissesse que eu canto mal e que eu falo demais e que risse das vezes em que eu fosse desastrada. Alguém que me olhasse nos olhos quando falo, sem me deixar intimidada. Alguém com qualidades e defeitos suportáveis. Que não fosse tão bonito e ainda assim eu não conseguisse olhar em outra direção. Alguém que me encontrasse até quando eu tento desesperadamente me esconder do mundo. Eu queria sair por aquela porta e conhecer alguém imperfeito. Feito pra mim.

Tudo o que sou.

Pra não pensar na falta, eu me encho de coisas por aí. Me encho de amigos, bares, charmes, possibilidades, livros, músicas, descobertas solitárias e momentos introspectivos andando ao Sol. E todo esse resto de coisas deixa ao pouco de ser resto E passa a ser a minha vida.

Viciado pelo fascínio.

Eu serei o que lhe falta, e quando ela disser que já não pode mais imaginar a vida sem mim, eu já não estarei mais lá. Vou arrancar-me dela por ter perdido o maior motivo de amá-la; o do desafio, o da conquista. E com uma tristeza abissal verei as piores lágrimas jorrarem de seus olhos e me sentirei um estuprador de criancinhas. Porque eu sou um idiota de qualquer maneira. Viciado pelo fascínio.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Wrong password.

Acabamos na noite de sábado. De manhã, o computador pergunta se desejo trocar a senha com seu nome. Faltam 12 dias para expirar. Cheira implicância. Daqui a doze dias, é meu aniversário. Não estará presente, pelo jeito. Será o primeiro aniversário da minha vida adulta que atravesso solteiro. Sem surpresas. Sem jantar. Sem os aplausos das velas. Sem aquela vontade de atravessar a idade de mãos dadas. 
Tenho que controlar o coitadismo.
Não há vítima na briga, há dois agressores. Sou um deles. As pedras no bolso são versáteis, servem tanto para o suicídio como para o homicídio. 
Nenhum dos dois quis mudar. Mudar era visto como piorar, infelizmente. Nos amamos o suficiente para morrer, não o suficiente para nascer de novo. 
Não vou telefonar, não vou mandar torpedo, apesar da vontade imensa de reatar. O orgulho assumiu meu quarto. Conversa com ele agora. Com essa governanta das minhas desvalias, do meu guarda-roupa e sapatos. Estou de castigo, protegido, ausente, impedido de responder por mim. Se fosse responder, avisaria que dependo de você, que a desejo de volta. Infelizmente sou capacho de minha angústia. Piso em minhas palavras para limpar os pés da chuva. 
O desamor é treino. Não existe desamor. Existe ensaio, simulação da indiferença, controle absurdo do cumprimento. Não que não sinta nada por você, sinto absolutamente tudo mais do que nunca e não consigo comunicar. 
É esquisito ser seu ex. O corpo não aceita participar da greve de fome. No dia seguinte, sou seu ex-namorado. Acordei ex. Pronto. Na noite anterior, era o homem mais importante da sua vida. Agora virei um estranho, um engano. É excessivamente cruel. Largar uma história em comum sem nenhuma desintoxicação, tratamento, cuidado. Sem nenhuma ante-sala para chorar, berrar, espernear, expiar a febre. É muito mais grave do que um vício. 
Quando você ardia alguma angústia, dizia que logo passava. 
Quando você ardia alguma angústia, dizia que logo passava. 
Não passará logo. Fingirei. Fingirei que me darei melhor sozinho. É uma estrondosa mentira que também acreditará porque não tem escolha. Sou uma mesa para dois, serei sempre uma mesa para dois. Levarei minhas malas para ocupar a cadeira ao lado. Enfrentarei os questionamentos: “onde você anda?”: nos lugares em que frequentávamos juntos. Explicarei que brigamos, escutarei dos amigos que é normal e que logo faremos as pazes, comentarei que é definitivo por educação e para não sofrer mais. 
O ex mente, integralmente mente, complicado porque você me ensinou a gostar da verdade. Não tivemos filhos, não tivemos uma casa para dividir a partilha, não tivemos um cachorro para se procurar novamente. Não projetamos pretextos para a reconciliação, como esquecermos disso? Nosso amor não tem endereço como um circo, montado e desmontado na estrada. 
Resisto a trocar a senha, aceito as migalhas da casualidade, não estou pronto, ninguém está pronto para se separar. O computador é mais caridoso do que a gente. Coloca prazos. O prazo é uma esperança disfarçada de adiamento. 
Como dói o que não começou a doer. Não preciso de férias, preciso de outra vida.

domingo, 7 de novembro de 2010

Chegou, chegou.

Ninguém me jogou uma pedra, ninguém cuspiu em mim e as ruas até que fluíram amigas para que a gente andasse de mãos dadas e cantasse músicas bregas, desviando de lixos. O ar e o silêncio me deram a preguiça necessária para eu deitar em outra cama e relaxar do meu amor enlouquecedor por você. A tão sonhada paz, que não sinto ao seu lado, chegou. E eu dormi finalmente sem precisar saber onde você estava e no que você estava pensando. Eu respirei apesar da minha rinite e eu não senti o vácuo assustador do meu espírito.

A vida é assim, Charlie Brown.

Linus: Você tem medo de ser feliz, Charlie Brown?
Charlie: Não sei quais são os efeitos colaterais?

Quem me quer?

Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e um verdadeiro desastre na cozinha. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos. Pareço uma metralhadora disparando informações como se estivesse preenchendo um cadastro para arranjar marido. Ponha na conta da ansiedade.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Você sabe o que quer, mas foge do que precisa.

Eu preciso aprender a ser menos. Menos dramática. Menos intensa. Menos exagerada. Alguém já desejou isso na vida: ser menos? Pois é. Estranho. Mas eu preciso. Nesse minuto, nesse segundo, por favor, me bloqueie o coração, me cale o pensamento, me dê uma droga forte para tranqüilizar a alma. Porque eu preciso. E preciso muito. Eu preciso diminuir o ritmo, abaixar o volume, andar na velocidade permitida, não atropelar quem chega, não tropeçar em mim mesma. Eu preciso respirar. Me aperte o pause, me deixe em stand by, eu não dou conta do meu coração que quer muito. Eu preciso desatar o nó. Eu preciso sentir menos, sonhar menos, amar menos, sofrer menos ainda. Aonde está a placa de PARE bem no meio da minha frase? Confesso: eu não consigo. Nada em mim pára, nada em mim é morno, nada é pouco, não existe sinal vermelho no meu caminho que se abre e me chama. E eu vou... Com o coração na mochila, o lápis borrado, o sorriso e a dúvida, a coragem e o medo, mas vou... Não digo: "estou indo", não digo: "daqui a pouco", nada tem hora a não ser agora. Existe aí algum remedinho para não-sentir? Existe alguma terapia, acupuntura, pedras, cores e aromas para me calar a alma e deixar mudo o pensamento? Quer saber? Existe. Existe e eu preciso. Preciso e não quero.

Don't get me wrong.

Eles podem usar seus Reeboks clássicos
Ou seus converse acabados, ou seus bottons enfiados nas meias
Mas essa não é a questão.
A questão é que não existe mais romance por ali.

Goin’ down.

E aí, Padre
Eu não quero incomodá-lo
Mas eu tenho que confessar um pecado
Eu tenho apenas 16, se você sabe o que quero dizer
Você se importa se eu tirar meu vestido?