quarta-feira, 7 de julho de 2010



Desligou a tevê de repente. Foi até o quarto, abriu todas as portas do armário. Camisas, meias, roupa suja, sapatos, documentos, travesseiro. Amontoou tudo no meio da sala. Pegou uns desodorantes no banheiro. Iriam ajudar. Por cima, jogou talheres, pacotes de macarrão pela metade, garrafas de Merlot que nunca foram abertas. Da cozinha, trouxe também uma caixa de fósforos. Acendeu o palito com a mão direita, com a esquerda fez uma concha. Jogou na pilha, mas a chama se extinguiu. Olhou para a sala bagunçada, o seu dia-a-dia todo empilhado. E começou a arrumar, coisa por coisa, tudo o que estava ali.


Olhei para o espelho e encontrei um estranho. Os cabelos um pouco mais compridos, o rosto parecendo mais delgado por causa dos óculos pretos, a camiseta aberta somente até a casa certa. Mas eram os olhos que denunciavam o semblante: o outro me via, e também não me reconhecia.