quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Wrong password.

Acabamos na noite de sábado. De manhã, o computador pergunta se desejo trocar a senha com seu nome. Faltam 12 dias para expirar. Cheira implicância. Daqui a doze dias, é meu aniversário. Não estará presente, pelo jeito. Será o primeiro aniversário da minha vida adulta que atravesso solteiro. Sem surpresas. Sem jantar. Sem os aplausos das velas. Sem aquela vontade de atravessar a idade de mãos dadas. 
Tenho que controlar o coitadismo.
Não há vítima na briga, há dois agressores. Sou um deles. As pedras no bolso são versáteis, servem tanto para o suicídio como para o homicídio. 
Nenhum dos dois quis mudar. Mudar era visto como piorar, infelizmente. Nos amamos o suficiente para morrer, não o suficiente para nascer de novo. 
Não vou telefonar, não vou mandar torpedo, apesar da vontade imensa de reatar. O orgulho assumiu meu quarto. Conversa com ele agora. Com essa governanta das minhas desvalias, do meu guarda-roupa e sapatos. Estou de castigo, protegido, ausente, impedido de responder por mim. Se fosse responder, avisaria que dependo de você, que a desejo de volta. Infelizmente sou capacho de minha angústia. Piso em minhas palavras para limpar os pés da chuva. 
O desamor é treino. Não existe desamor. Existe ensaio, simulação da indiferença, controle absurdo do cumprimento. Não que não sinta nada por você, sinto absolutamente tudo mais do que nunca e não consigo comunicar. 
É esquisito ser seu ex. O corpo não aceita participar da greve de fome. No dia seguinte, sou seu ex-namorado. Acordei ex. Pronto. Na noite anterior, era o homem mais importante da sua vida. Agora virei um estranho, um engano. É excessivamente cruel. Largar uma história em comum sem nenhuma desintoxicação, tratamento, cuidado. Sem nenhuma ante-sala para chorar, berrar, espernear, expiar a febre. É muito mais grave do que um vício. 
Quando você ardia alguma angústia, dizia que logo passava. 
Quando você ardia alguma angústia, dizia que logo passava. 
Não passará logo. Fingirei. Fingirei que me darei melhor sozinho. É uma estrondosa mentira que também acreditará porque não tem escolha. Sou uma mesa para dois, serei sempre uma mesa para dois. Levarei minhas malas para ocupar a cadeira ao lado. Enfrentarei os questionamentos: “onde você anda?”: nos lugares em que frequentávamos juntos. Explicarei que brigamos, escutarei dos amigos que é normal e que logo faremos as pazes, comentarei que é definitivo por educação e para não sofrer mais. 
O ex mente, integralmente mente, complicado porque você me ensinou a gostar da verdade. Não tivemos filhos, não tivemos uma casa para dividir a partilha, não tivemos um cachorro para se procurar novamente. Não projetamos pretextos para a reconciliação, como esquecermos disso? Nosso amor não tem endereço como um circo, montado e desmontado na estrada. 
Resisto a trocar a senha, aceito as migalhas da casualidade, não estou pronto, ninguém está pronto para se separar. O computador é mais caridoso do que a gente. Coloca prazos. O prazo é uma esperança disfarçada de adiamento. 
Como dói o que não começou a doer. Não preciso de férias, preciso de outra vida.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. nossa esse texto é muito bom... a coincidência em terem terminado e a senha dela expirado no computador... e a forma que ele descreve a dor que sente acho que nenhum fim de relacionamento é de repente, sempre há os meios como vi em seus posts antigos assistiu 500 dias com ela, é um exemplo disso. é o julian casablancas,vocalista dos strokes, na foto? se não desculpe o engano... =)

    Ps.: o texto é de sua autoria?

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  3. Realmente é um ótimo texto, mas não é minha autoria. Somente alguns no blog são propriamente escritos por mim.
    E sim, é o Julian Casablancas do Strokes na foto.

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